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Portugal procura soluções inovadoras para a crise da habitação acessível

BySónia Pereira

Jun 30, 2025

Tecnologia de Hong Kong pode acelerar construção de habitação pública

Face às dificuldades em concretizar os planos para reforçar o parque habitacional público, o Governo português procura novas soluções para ultrapassar entraves burocráticos e operacionais. Uma dessas soluções poderá vir do outro lado do mundo. As autoridades de Hong Kong anunciaram recentemente a intenção de promover o uso de tecnologias inovadoras na construção de habitação pública em Portugal.

No centro desta colaboração está um evento empresarial promovido por representantes de Hong Kong, que se realizará em Lisboa sob o tema “Desvendar Novos Horizontes: Habitação Acessível e Oportunidades em Hong Kong e na Grande Baía”. Este encontro visa partilhar experiências e metodologias para acelerar e melhorar a qualidade da construção pública, através de técnicas como a pré-fabricação modular e a utilização de robôs em obras civis.

Intercâmbio luso-chinês no setor da construção

A comissária do projeto, Maisie Chan Kit Ling, sublinhará as “enormes oportunidades de negócio” que se abrem para os empresários portugueses interessados em colaborar com o setor da construção da região da Grande Baía, que integra Hong Kong, Macau e nove cidades da província de Guangdong. Esta área representa uma economia superior a um bilião de euros e mais de 86 milhões de habitantes.

Mais de 20 representantes de empresas dos setores da construção civil de Hong Kong e da China continental vão marcar presença em Lisboa. O evento pretende criar pontes entre os dois mercados e fomentar parcerias tecnológicas e comerciais.

A Secretária para a Habitação de Hong Kong, Winnie Ho Wing Yin, também estará presente, reforçando o compromisso do território asiático em colaborar com Portugal no desenvolvimento de soluções habitacionais sustentáveis e eficientes.

Presença no Fórum Internacional de Urbanismo

Para além do evento empresarial, Maisie Chan e Winnie Ho irão participar no 17.º Fórum Internacional de Urbanismo, a decorrer esta semana no renovado Pavilhão de Portugal, atualmente sob gestão da Universidade de Lisboa. Este fórum constitui um espaço de debate sobre as cidades do futuro, onde a habitação acessível é um dos principais temas em discussão.

O atual Governo português, liderado por Luís Montenegro, tem como objetivo construir 59 mil casas públicas até 2030. Esse plano também contempla o financiamento de projetos em parceria público-privada e a utilização de imóveis devolutos do Estado. No entanto, o primeiro-ministro já admitiu que a meta intermédia de 26 mil casas até 2026 está a revelar-se difícil de atingir, apesar de recentes sinais de aceleração no setor.

Aplicação expõe imóveis devolutos e gera controvérsia

Paralelamente ao debate político e internacional sobre habitação, uma aplicação móvel criada por ativistas portugueses trouxe a questão para o centro da discussão pública. A aplicação chama-se Devolutos e tem como objetivo mapear os imóveis vazios existentes em Lisboa. Em poucas semanas, a plataforma identificou mais de 48 mil propriedades desocupadas na cidade.

Através de registos públicos e dados do censo, os criadores da aplicação procuram sensibilizar a opinião pública e incentivar os proprietários e as autoridades a dar uso a estes imóveis, com vista a mitigar a crise habitacional. No entanto, esta iniciativa gerou contestação por parte de associações de proprietários, que consideram a plataforma intrusiva e alegam preocupações com a privacidade.

Segundo os seus criadores, a intenção da Devolutos nunca foi apontar culpados, mas sim expor um problema estrutural. Muitos dos imóveis identificados encontram-se presos em processos de herança que se arrastam por anos, o que dificulta qualquer intervenção ou requalificação.

Propostas para desbloquear imóveis parados

Uma das ideias lançadas pelos responsáveis pela aplicação é permitir ao Estado arrendar temporariamente imóveis que estejam bloqueados em longos processos de sucessão. Esta proposta visa transformar património inativo em habitação útil, promovendo uma resposta mais eficaz à escassez de casas acessíveis em zonas urbanas.

A junção de soluções tecnológicas internacionais, como as apresentadas por Hong Kong, com iniciativas locais que apelam à ação cívica e à modernização legislativa, poderá representar um novo caminho para resolver os desafios que Portugal enfrenta no setor da habitação.